segunda-feira, 20 de setembro de 2010


Psicomotricidade e computador

Com certeza o gesto humano que nos torna único, se nos compararmos aos demais animais, é o da grafia - ou a grafomotricidade, uma vez que para escrever colocamos em jogo uma série de músculos da mão e punhos, que por sua vez estão encadeados com o controle dos braços, ombros, e coordenação viso-motora. A mesma seqüência é posta em marcha quando um cirurgião utiliza o bisturi, ou quando um relojoeiro acerta a minúscula engrenagem de um relógio, ou ainda quando o artista dedilha seu instrumento ou pincel.

A posição do polegar em relação aos demais dedos da mão e à esta em si mesma, permite-nos a destreza e a acuidade motora fina, que por exemplo, não dispõem os primatas. Estes são capazes de fabricar e utilizar pequenos utensílios e ferramentas, mas não podem, por limitação de seu processo evolutivo e pelas conseqüências diretas ao seu padrão genético, manter a ferramenta - fosse ela um bisturi, um pincel ou um lápis-, nas mesmas condições que utilizamos.

Com a criança muito pequena se dá o mesmo; por não ter 'fechado' o circuito motor, devido a imaturidade do seu sistema nervoso, pela carência de uma mielinização completa, além do fator treino, ela ainda não é capaz de utilizar no início de sua vida, estes mesmos instrumentos com a mesma precisão de uma criança mais velha que já tenha atingido o desenvolvimento e maturação neurofisiológica para isto. Alia-se ao fato de que ela ainda não completou o seu desenvolvimento psicomotor, para lidar com os aspectos que envolvem, além da destreza e habilidade, o sucesso ou fracasso em uma atividade física: programação, atenção, capacidade de planejamento, raciocínio e coordenação viso-motora, que é a relação entre o comando dos olhos e a coordenação, no caso, de suas mãos.

Todavia para que esta coordenação motora fina, que é como chamamos a capacidade de escrever, costurar, pintar, consertar o relógio ou digitar, é o último degrau, no processo de desenvolvimento, da coordenação global, que envolve a marcha e o equilíbrio, e a correta utilização dos membros e de todo o corpo em grandes cadeias musculares.

Seguindo-se os princípios gerais do desenvolvimento; o próximo-distal e o céfalo-caudal, sempre do mais simples para o mais complexo, do mais interior (corpo) para o mais distante (membros, pernas e mãos), e da cabeça para os restante do corpo. Quer dizer que o desenvolvimento não é aleatório, e ainda tem uma seqüência que diz, que para segurar um lápis, a criança precisa ter primeiro firmado sua cabeça, corpo, ombros, braços, punho e finalmente mãos e dedos.

O que assistimos hoje é impressionante; as crianças e os jovens estão cada vez mais ágeis e hábeis no que diz respeito a esta motricidade fina. Como já nascem 'plugados' em controles,joysticks, e teclados, a seqüência motora de seus dedos, quer seja para apertar, controlar ou digitar, faz inveja até mesmo ao mais hábil cirurgião ou restaurador de obra de arte. Esta constatação pode ser verificada por qualquer adulto que já tenha passado a casa dos trinta: perdemos peremptoriamente qualquer aventura digital ou eletrônica com nossos filhos, sobrinhos ou os mais jovens. Aceitar uma disputa de um vídeo-game é o mesmo que assinar um atestado de incompetência: eles nos ultrapassam com uma larga vantagem adquirida em horas de treino com este jogos eletrônicos e no computador.

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